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Em
abril de 1990, o gaúcho Rubel Thomas foi eleito
presidente da VARIG, que a liderou no difícil período
que atingiu duramente toda a indústria de transporte
aéreo, com o inicio da Guerra do Golfo. Mesmo assim foram abertas novas rotas
internacionais e domésticas na malha de linhas da VARIG.
Em abril de 1995, foi eleito um novo Presidente, Carlos
W. Engels, que administrou o período de transição que a
VARIG atravessava. Uma outra eleição trouxe um novo
Presidente, Fernando Abs Cruz da Souza Pinto. Filho de
um antigo comandante da VARIG, também piloto e até então
Presidente da Rio Sul, ele assumiu a Presidência da
VARIG em janeiro de 1996.
A
década de 90 se iniciou com os dois maiores e mais modernos jatos da
época, o MD-11 e o Boeing 747-400, ambos chegaram em 1991. A VARIG
foi uma das primeiras companhias aéreas do mundo a operar o MD-11,
que se tornou a principal aeronave para voos internacionais. Além de
renovar a frota, a VARIG também expandiu ainda mais a sua malha
internacional com o lançamento da rota São Paulo – Johanesburgo –
Bangkok – Hong Kong, em 1993. Além dessa, a VARIG também reforçou a
sua presença nos EUA com voos para Orlando, Washington, Atlanta e
Chicago.
No
final de 1991, a rota mais famosa do Brasil perdeu a sua aeronave
mais famosa. Em novembro, o Boeing 737-300 começou a substituir os
legendários Electra II na rota mais movimentada do país. O
último voo regular ocorreu no dia 5 de janeiro de 1992, com um voo
histórico e cheio de despedidas emocionadas.
Em 1994 a VARIG lançou o seu programa de fidelidade Smiles, que logo
se tornou o maior da América Latina. No ano seguinte, o grupo VARIG
ficou maior, com a aquisição de 49% da companhia aérea uruguaia
Pluna e a aquisição da Nordeste pela Rio Sul.
Em 1996
surgiu uma nova VARIG, com o lançamento da nova identidade visual da
empresa. A rosa dos ventos ganhou novas cores, amarelo e dourado, e
o logotipo ganhou o nome “Brasil” estilizado.
Em
setembro de 1997, a VARIG fez a maior encomenda da sua história, num
total de 24 aeronaves com opção para mais 15 aeronaves por US$ 2,7
bilhões, que incluíam Boeing 767-300ER e os novos Boeing 737-700,
737-800 e 777-200. Foi também nessa época que a VARIG atingiu o seu
recorde em oferta de assentos, foram nada menos do que 41,05 em
milhões de assentos/quilômetros oferecidos em um ano.
No ano
em que completou 70 anos, a VARIG deu mais um passo importante em
sua história ao entrar na Star Alliance, em novembro de 1997. Agora
a VARIG fazia parte de uma rede global de companhias aéreas com alto
nível de qualidade, oferecendo mais de 10 mil voos diários para 124
países. Foi em 1998 que a VARIG se tornou a primeira
companhia da América Latina a operar a nova geração de jatos da
Boeing, os Boeing 737NG, com o inicio da operação regular do
Boeing 737-700.
A
década de 90 foi marcada pela desregulamentação do setor aéreo
brasileiro, culminando diminuição dos preços das passagens e na
entrada de novos concorrentes no mercado internacional. Dessa forma,
a malha internacional da VARIG foi reformulada com o fim de voos
deficitários, como os para a maioria dos países na África, Canadá e
alguns na América Latina, como Equador, Costa Rica e Caribe. A frota
da companhia também foi racionalizada com a retirada de operação dos
Airbus A300 e Boeing 747-400 e a aceleração da aposentadoria de
modelos mais antigos como Boeing 727 e DC-10. Outra medida foi a
transferência dos voos internacionais para o Aeroporto Internacional
de Guarulhos, em São Paulo. Na década de 90, as rotas costumavam
iniciar no Rio de Janeiro (por exemplo: Rio de Janeiro - São Paulo -
Paris - São Paulo - Rio de Janeiro), mas agora eram oferecidos voos
non-stop (sem escalas) a partir de São Paulo para todos os destinos
internacionais da companhia.
A
década de 90 fechou com a despedida do Jumbo. No dia 2 de junho de
1999 foi realizado o último voo do Boeing 747 na VARIG, encerrando
quase 20 anos de operação desses gigantes na malha aérea da empresa.
Eles foram substituídos pelo MD-11: menor, mais moderno e econômico.
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COMO ERA VOAR NOS ANOS 1990?
Na
década de 90, o que já vinha acontecendo nos EUA e Europa há alguns
anos, começou a aparecer no Brasil mais fortemente. Com a abertura
do mercado brasileiro, as companhias aéreas viram a competição
aumentar, os preços diminuírem e a ocupação das aeronaves declinar. Para se
adequar a nova realidade, as companhias tiveram que reduzir custos e
isso significa menos “mimos” para os passageiros. Foi na década de
90 que a classe econômica fez jus a palavra “econômica”, os assentos
diminuíram, a distancia entre as fileiras ficou menor, refeições
mais simples e “adeus” para as bebidas alcoólicas em voos
domésticos. Por outro lado, os passageiros se beneficiaram com a
tecnologia, que permitiu o uso de vários monitores nas aeronaves, ao
invés de apenas um telão, e venda Duty Free a bordo.
Outra coisa que mudou nos anos 90 foi a proibição do fumo a bordo.
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Na Classe Econômica a VARIG oferecia mais espaço
para as pernas, já que as aeronaves tinham menos
assentos para dar mais conforto ao passageiro. Nos voos domésticos
eram oferecidas refeições quentes, acompanhadas de salada, pão,
manteiga, frutas, sobremesa, chocolate Kopenhagen e bebidas como
água, sucos, refrigerantes, água de coco, mate, chás e café. Em voos
internacionais haviam duas ou três opções de pratos quentes. Já em voos
transoceânicos também havia o Snak Bar, um bufê self-service com lanches
variados para o passageiros se servir a qualquer hora durante o voo.
A VARIG também disponibilizava para os seus passageiros em qualquer
classe, refeições especiais, kit de entretenimento para crianças e
kit de entretenimento para bebes.
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Na Classe
Executiva a VARIG oferecia poltronas que reclinavam até 135 graus. O serviço de bordo
incluía
duas opções de entrada, quatro opções de pratos quentes e uma
sobremesa, além de frutas e queijos. As bebidas incluíam o programa Wines of the World.
Também nos anos 90 foram introduzidos os aparelhos de
vídeo individual "videoplayers" com 12 opções de programa em sete idiomas.
A VARIG ainda dispunha de salas VIPs próprias para passageiros da
primeira ou classe executiva ou com cartão Smiles diamante ou ouro.
Nas salas, os passageiros tinham a disposição microcomputadores com
acesso à internet, telefone, fax e copiadora. Outro serviço inovador
para a época era a possibilidade de
alugar um celular.
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Na Primeira
Classe da VARIG o atendimento era personalizado e o serviço de
bordo obedecia a filosofia “Restaurant Style”, permitindo a escolha do
prato da preferência do passageiro e quando ele gostaria que cada uma das
refeições fosse servida. O Caviar iraniano, cada vez mais raro e
exclusivo, continuava sendo destaque no serviço de bordo da VARIG, que
contava com o wine-expert Danio Braga escolhendo pessoalmente os
vinhos do programa Wines of The World. O entretenimento da VARIG
First contava com aparelhos de vídeo individual, com doze opções de
programa sendo seis filmes, em até sete idiomas diferentes. A VARIG First contava também com o Comfort Station que
reunia nove itens
úteis a bordo e que complementavam os produtos disponíveis
nas "necessaires" e nos toaletes.
|
Década
de
90 |
Frota
VARIG:
05xBoeing
727-100F
13xBoeing 737-200
26xBoeing 737-300
05xBoeing 747-300
06xBoeing 767-200ER
06xBoeing 767-300ER
08xDouglas DC-10-30
02xDouglas DC-10-30F
07xMcDonnell Douglas MD-11
TOTAL: 78
Frota Rio
Sul:
07xBoeing
737-500
10xEmbraer EMB-120
05xEmbraer ERJ-145
05xFokker F-50
TOTAL: 27
Frota
Nordeste:
02xBoeing
737-500
05xEmbraer EMB-120
02xFokker F-50
TOTAL: 09
Frota
Pluna Uruguay:
05xBoeing
737-200
01xDouglas DC-10-30
TOTAL: 6 |
Destinos Nacionais:
46 cidades
Destinos Internacionais:
Montevidéu, Buenos Aires, Santiago, Assunção,
Santa Cruz de La Sierra, La Paz, Lima, Bogotá,
Caracas, Quito, Guayaquil, Cayenne, Paramaribo,
Panamá, São José, México, Cancun, Miami,
Orlando, Chicago, Atlanta, Washington, Los
Angeles, New York, Toronto, Lisboa, Oporto,
Madrid, Barcelona, Paris, Roma, Milão, Zurich,
Frankfurt, London, Copenhagen, Amsterdam,
Johanesburgo, Luanda, Lagos, Tokyo, Nagoya,
Bangkok, Hong Kong
Passageiros Transportados: 244 milhões (média
de 24,41 milhões por ano)
|
|
Evolução da frota (Grupo Varig):
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Mapa de rotas internacionais em 1997 / Classe Executiva nos voos
domésticos / Companhias Aéreas da Star Alliance
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EM FOCO:
Monopolista ou não monopolista, eis a questão
Inicialmente
cada companhia aérea brasileira era responsável por uma
parte do mercado internacional. A VARIG tinha a rota
para Nova York, a Real-Aerovias para Bogotá,
Caracas, Miami, Los Angeles e Tokyo, a Cruzeiro do Sul
ficou com as rotas para América do Sul e a Panair do
Brasil com as rotas para Europa e Oriente Médio. Em 1961
a VARIG comprou a Real, em 1965 herdou as rotas
internacionais da Panair e em 1975 comprou a Cruzeiro.
Desde
a compra da Cruzeiro, a principal reclamação
das concorrentes da VARIG era o fato dela dominar 100%
do mercado internacional brasileiro, ou seja, a VARIG
era a única companhia brasileira a realizar voos
internacionais e assim permaneceu até os anos 90. Além
disso, após a compra da Cruzeiro, a VARIG também passou
a dominar cerca 60% do mercado doméstico brasileiro,
restando para as outras apenas 40% do mercado doméstico.
De um lado Vasp e Transbrasil chamavam a VARIG de
monopolista e achavam injusto a distribuição do mercado,
pois elas não recebiam em dólares, mas tinham a maioria
de suas despesas em dólares e eram pequenas demais para
competir com a toda poderosa VARIG.
Do outro lado a VARIG argumentava que não era
monopolista, pois concorria com todas as outras
companhias estrangeiras que operavam no Brasil e que a
empresa chegou onde chegou porque soube se preparar para
enfrentar a concorrência e investiu milhões de dólares
em treinamento e equipamentos.
O fato era que naquela época o mercado era rigorosamente
controlado pelo Departamento de Aviação Comercial. Todas
as companhias tinham cotas máximas de mercado e não
podiam crescer além disso. Além de controlar as rotas,
frequências e horários, o governo também controlava as
tarifas. E o controle valia também para o mercado
internacional - o que protegia a VARIG. As tarifas
tinham um piso, ou seja, nenhuma companhia brasileira ou
estrangeira poderia cobrar menos do que o estabelecido
pelo Departamento de Aviação Comercial. Houveram vários
casos em que a VARIG denunciou o que chamava de
"pirataria", quando companhias estrangeiras
(principalmente sulamericanas) cobravam menos do que o
mínimo estabelecido pelo Departamento de Aviação
Comercial.
Aparentemente o governo brasileiro era adepto da ideia
de que o mercado não iria comportar mais de uma
companhia brasileira voando para o mesmo destino
internacional. Também naquela época os EUA era um dos
raros exemplos onde havia mais de uma companhia aérea
nacional voando para o exterior. Nos países europeus, na
América Latina e no Japão, apenas uma companhia aérea
realizava voos internacional - a chamada "companhia de
bandeira". Além disso era muito comum que as companhias
fossem estatais e assim estavam protegidas, pois se
tivesse prejuízo, o governo cobria o rombo. Assim era com a Air France, Alitalia e tantas outras. O próprio
Estados Unidos "protegeu" a Pan Am, impedindo que
nenhuma outra companhia aérea americana operasse voos
internacionais por vários anos.
Além de ter o "monopólio" das rotas internacionais, as
"companhias de bandeira" também serviam destinos que
davam prejuízos, meramente por interesses políticos. A
VARIG por exemplo operou para várias cidades na África
como Luanda e Maputo, onde as operações nunca foram
lucrativas.
Mesmo competindo com outras companhias estrangeiras, o
mercado era extremamente regulado. Na rota entre o
Brasil e os EUA, por exemplo, apenas a VARIG e a Pan Am
estavam autorizadas a operar. As rotas, as frequências,
os horários e as tarifas eram rigorosamente regulados e
as duas companhias dividiam o mercado com uma competição
bem limitada, afinal era tudo regulado pelo governo. O
Departamento de Aviação Comercial brasileiro chegou a
impedir a entrada da American Airlines na rota entre os
EUA e o Brasil, alegando que as companhias brasileiras
iriam ficar em desvantagem.
Apesar de ser um mercado muito regulado e com "pouca"
competição, o mercado de aviação comercial brasileiro
mostrou a sua fragilidade quando Procópio de Carvalho
publicou o seu estudo dizendo que entre 1956 e 1970 o
governo deu, em forma de subsidio, cerca de 140 milhões
de dólares. Isso era mais do que a soma de todo o
capital e todos os investimentos de todas as companhias
aéreas brasileiras juntas (na época).
Esses argumentos dificultavam os constantes pedidos da
Vasp e a Transbrasil para operar rotas internacionais.
Porém na década de 80 as duas companhias intensificaram
os protestos e trouxeram aeronaves com objetivo de
realizar voos de longa distância. A Vasp trouxe os
Airbus A300 e a Transbrasil os Boeing 767-200. No
entanto durante toda a década de 80 as duas companhias
apenas realizaram voos internacionais charters. Tanto a
Transbrasil quanto a Vasp pediram para operar rotas para
o Caribe, a Vasp dizia que não ira prejudicar a VARIG,
pois ela não voava para o Caribe e a Transbrasil
brincava que iria até ajudar a VARIG, pois o seu voo
faria escala em Manaus, levando mais hospedes para o
hotel Tropical (que era da VARIG).
Finalmente, em junho de 1990, a Transbrasil quebrou o
"monopólio" da VARIG iniciando regulares entre São
Paulo, Rio de Janeiro, Miami e Orlando. Depois a
companhia expandiu sua malha internacional para outras
cidades nos EUA, Europa e América do Sul, A Vasp iniciou
seus voos regulares pouco tempo depois, com voos para
América do Sul, Caribe, EUA, Canadá, Europa e Coréia do
Sul.
O fato é que a Vasp encerrou todos os voos
internacionais em 1999 e a Transbrasil faliu em 2001. Em
1998 a Tam havia começado a voar para Miami e Paris, mas
a VARIG passou a dominar quase 90% do mercado internacional, ou seja, "quase monopolista" novamente.
Em junho de 2006 a VARIG entrou em colapso e a Tam
passou a ser a "companhia de bandeira" do Brasil. Outras
companhias como a Gol, BRA e OceanAir aproveitaram o fim
da VARIG e iniciaram uma expansão internacional. Mas em
menos de dois anos a BRA faliu e a OceanAir desistiu dos
voos internacionais. Os planos da Gol de lançar a "nova
VARIG" foram por água abaixo em 2008 e a Tam voltou a ser "quase monopolista" no mercado
internacional, com mais de 90% do mercado. Será que o
Brasil está mesmo fadado a ter somente uma companhia
aérea "de bandeira"?
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