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ÍCARO BRASIL Nº 257 até 262 - Janeiro até Julho de 2006

 

WELCOME


Marcelo Willian Bottin
presidente da VARIG
presidencia@varig.com

O verão é uma época especialmente grata para as empresas aéreas. Porque é sempre grato imaginar nossos milhares de passageiros em viagens de lazer com a família, felizes com o que vão poder esquecer ou descobrir nas suas sonhadas e merecidas férias. Para todos este é um tempo de recuperar forças, repensar a vida, encurtar distâncias, estreitar laços com as pessoas queridas. Também para uma empresa aérea os meses de férias oferecem uma oportunidade preciosa para estreitar laços com seus passageiros de todas as idades, intenções e destinos. Propiciar viagens reconfortantes, prazerosas e seguras tem sido uma missão que para nós se traduz em qualidade dos serviços, manutenção cuidadosa e rigoroso treinamento de profissionais. A força da marca VARIG no Brasil e no mundo só vem atestar o quanto ela transformou esta sua missão numa verdadeira vocação. Janeiro é também um mês para acreditar, com renovada fé, no velho dito popular: ano novo, vida nova. O que, aliás, vale tanto para a vida pessoal como para vida das empresas. Cada um de nós sabe o que enfrentou em 2005 e dos seus sonhos para o ano que começa. Cada empresa sabe também o quanto a solidez da sua história pode garantir melhores horizontes para além de todas as turbulências. Um bom verão e um promissor 2006 para todos os nossos queridos passageiros. Lembro que uma das nossas missões este ano será mais uma vez transportar a Seleção para a Copa e, se Deus quiser, trazê-la de volta numa viagem que há de ser, mais uma vez, uma festa.

 

Nós acreditamos

São muitas vitórias para comemorar, boas notícias para todos e uma convicção para dividir com você, passageiro da VARIG. Entre as conquistas mais importantes, está a aprovação do Plano de Recuperação da VARIG pelos credores da companhia, sua conseqüente homologação pela Justiça brasileira e a implantação de um ousado projeto de governança corporativa, moderno e profissional. São fatos fundamentais para que um choque de gestão – que já está sendo aplicado – acelere as modificações que a VARIG vem promovendo em sua estrutura. Também são boas notícias algumas alterações que fizemos em nossas malhas doméstica e internacional. No Brasil, a VARIG ampliou as ligações entre o Sul e o Nordeste, atendendo à forte demanda de seus passageiros. Para o exterior, a companhia inaugurou sua rota para Munique, totalizando 17 vôos semanais para a Alemanha – a VARIG já faz dois vôos diários para Frankfurt. Nos Estados Unidos, aumentaram de sete para 11 as freqüências para Nova York. Essas e outras ampliações já planejadas só foram possíveis graças à dedicação e ao esforço de seus funcionários, que, num curto espaço de tempo, foram responsáveis pela reincorporação de algumas aeronaves, ampliando a frota da VARIG para 62 aviões. Como já disse, vitórias, boas notícias e uma certeza que posso resumir em duas palavras: eu acredito. Aqui na VARIG, cada um de nós repete, com convicção: eu acredito. E tenho certeza de que, diante de todas as mudanças que vai perceber no seu convívio permanente com a VARIG, você também repetirá conosco: eu acredito.

 

Todos nós tendemos a ficar presos às tarefas do cotidiano mas, às vezes, mudá-lo faz bem à alma, à saúde, à família... Enfim, vale a pena tentar nem que seja, apenas, por dois dias, durante um fim de semana qualquer. Aproveite este semestre para viajar pelo Brasil. Durante os seis primeiros meses de 2006, a VARIG fará uma série de promoções para diversos destinos, oferecendo descontos de até 85%. É uma boa oportunidade para sair da rotina e desfrutar dos mais belos pontos turísticos do país. A primeira promoção da série começou em meados de março para os feriados da Páscoa e de Tiradentes. A Promoção Feriadão, válida entre os dias 11 e 25 de abril, traz um importante diferencial: o atendimento de excelência. Além do site da VARIG, os bilhetes pode ser comprados nas agências de turismo, nas lojas ou pelo call-center (4003-7000) da VARIG. O Programa Superweekend é outro produto com excelente relação custo-benefício para quem deseja relaxar por alguns dias. São pacotes completos (com trechos de ida e volta, hospedagem com café da manhã e traslados). Cariocas podem passar um fim de semana em São Paulo com preços a partir de R$ 399,00; paulistas – pelo mesmo valor – têm a opção de usufruir da Cidade Maravilhosa. O Superweekend também oferece opções de pacotes de quatro noites em Nova York com preços de a partir de US$ 985. Outra boa notícia é a premiação da VARIG com o Mercury Awards-Silver recebido no ITCA 2006 (International Travel Catering Association), realizado em março, em Valência, na Espanha. O Mercury Awards representa o reconhecimento internacional de serviços e de catering para a indústria de transporte. A VARIG foi escolhida pelo Fondue Express, oferecido na Ponte Aérea Rio-São Paulo. Uma vitória que fazemos questão de dedicar aos nossos clientes.

 

Tempos para torcer, acreditar e brilhar

Desde 1962, a VARIG é a transportadora oficial da seleção brasileira. Ter os craques novamente a bordo é motivo de orgulho para todos nós. Assim como nos orgulhamos de ter você, nosso fiel passageiro, voando conosco, confiando na empresa e recebendo o reconhecido atendimento de excelência. São os astros da seleção do Brasil e você que fazem a estrela da companhia ficar com um brilho ainda mais especial. No domingo 21 de maio, a VARIG teve o privilégio de embarcar os craques do futebol para mais uma Copa do Mundo, este ano com destino à Alemanha. Nesta edição de Ícaro, você conhecerá algumas peculiaridades do país-sede do Mundial de 2006. Durante o mês de junho e o início de julho, os holofotes estarão voltados para lá. Do Brasil, a VARIG oferece três vôos semanais para Munique e 14 para Frankfurt. Assim como a VARIG, nossos craques são reconhecidos internacionalmente: os jogadores, pelo espetáculo que dão em campo; a empresa, por sua história e pela qualidade do serviço que oferece a todos os seus passageiros há 79 anos. O transporte da seleção, este ano, teve característica ainda mais especial: ter os craques em nossa aeronave reforça a certeza de todos os brasileiros na recuperação da companhia. Para o embarque do grupo, a Sala Vip do Aeroporto Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, foi cuidadosamente preparada. A iniciativa teve como objetivo mostrar que a VARIG está unida a milhares de brasileiros na torcida pela taça. E saber que o símbolo dessa vitória, certamente, voltará para o Brasil num avião da frota VARIG nos deixa muito alegres. Ter você a bordo freqüentemente, acreditar que seremos campeões do mundo pela sexta vez, saber que em breve a VARIG estará mais forte e competitiva são alguns dos bons motivos que temos para comemorar a chegada dos meses de junho e julho – com Copa, férias e diversas boas notícias. Então, torçamos e comemoremos. Juntos. Hoje e sempre. Boa viagem.

 

 

Roberto Muylaert
publisher e editor
robertomuylaert@icarobrasil.com.br

Começo do ano mais verão, uma combinação irresistível para alegrar espíritos e abrir corações. Hora de propósitos renovados, de projetos otimistas e confiança rediviva. O ano de 2006 apresenta-se promissor para a área de turismo, em que quase todos os destinos têm as suas reservas e respectivos vôos lotados para o verão. Dados da Embratur mostram que o bom desempenho do turismo no Brasil está trazendo um crescimento nessa categoria acima da média mundial, que é de 10%. Nosso país deve fechar o ano com cerca de 20% de aumento, não somente em virtude da procura intensa pelos destinos nacionais, como pelo incremento das viagens internacionais, favorecidas pela taxa do dólar em relação a um real fortificado. E também pelo aumento dos turistas estrangeiros no Brasil, da ordem de 5,5 milhões de pessoas. Nesse sentido, a VARIG segue cumprindo o seu papel de levar passageiros aos mais variados destinos, no Brasil e no exterior, como mostra o nosso mapa de rotas. Cerca de 14 milhões de pessoas viajaram VARIG no ano que se encerrou, sendo ao redor de 30% desse total os passageiros dos vôos internacionais, muitos deles leitores de Ícaro no idioma inglês. Nesta edição, procuramos acompanhar esse clima de descontração e animação próprias da época, mostrando alguns lugares charmosos e muita coisa bonita e interessante para quem está a bordo curtindo o seu verão. Para isso, viajamos milhares de milhas pensando em você, passando por Los Angeles, Buenos Aires, São Paulo (Vila Madalena) e Alemanha, onde entramos em cheio no espírito da Copa, mostrando o Estádio Olímpico de Berlim, local original da Olimpíada de 1936, agora reformado, onde será realizado o jogo inicial do Brasil, no dia 13 de junho, e o final da Copa, em 9 de julho. É a VARIG na Copa do Mundo, mantendo a tradição de patrocinadora e transportadora oficial da seleção brasileira, agora em busca do hexa.

 

79 anos de histórias

Nos 79 anos da VARIG, existem algumas histórias curiosas ou engraçadas para contar Na década de 1950, a VARIG foi das primeiras empresas aéreas a adotar o Caravelle, o primeiro jato puro que voou no Brasil, com suas turbinas na cauda. A publicidade de lançamento apresentava o avião em vôo de cruzeiro, com um lápis apoiado de pé no braço da poltrona, imóvel. Um vôo de estréia inesquecível para os passageiros acostumados ao ronco e à vibração dos motores a pistão e hélices, encantados com o silêncio e com a total falta de trepidação, como informava a publicidade. Na década de 1960, Ruben Berta, presidente, mandou colocar um pequeno jato sob cada asa do Curtiss Commander, o C-46. Os jatos auxiliavam na decolagem, ocasião em que eram acionados. Sua contribuição para o embalo era modesta, não mais que 5%. Mas, com a promoção, o C-46 passou a ser o avião que decolava a jato, bem antes da época. Um grande marketing. Há o caso do cachorro embarcado em Paris, respeitadas todas as regras para esse tipo de transporte. Mas o cãozinho chegou morto. O pessoal do transporte substituiu o cachorro por outro igual, vivinho da silva. A dona indignou-se ao retirar o animal: “O que é isso, como pode, embarquei meu cãozinho morto, para ser enterrado no Brasil...”. Há a história do funcionário que, para conseguir passar um Fusca pela porta do avião, desmontou as rodas e pára-lamas e remontou-as dentro do porão de carga. O pessoal que recebeu o Fusca em Porto Alegre não conseguia retirá-lo. Ruben Berta conhecia o tal funcionário, que gostava de pegadinhas. Mandou chamá-lo e foi dizendo: “Dê logo as instruções para o pessoal retirar o Fusca entalado no avião..”. A última diz respeito ao tempo em que os aviões desciam nos pastos, na linha Porto Alegre - Rio Grande: para saber a direção correta do vento, bastava prestar atenção na posição das vacas no pasto. O gado permanecia sempre com o traseiro voltado para o vento. Com essa referência, era fácil pousar na direção certa.

 

 

SEU VOO

Editor de Aviação Ernesto Klotzel Ilustração Clayton Jr

Voando no futuro

Não é difícil imaginar o que nos será oferecido pela aviação comercial nos próximos dez anos. Hoje os projetistas de uma Boeing, Airbus e Embraer já podem simular em suas telas um avião completo da célula ao perfil das asas, passando pela melhor disposição dos sistemas elétricos e eletrônicos – e tudo isso com uma velocidade próxima da do som. Isso na tela dos computadores. Na prática, que aviões novos estão surgindo? Graças a sua mega exposição na mídia mundial, o mega jato Airbus A380 já parece velho conhecido, embora só ali por 2010 algum deles vá dar as caras em nossos aeroportos. Ele já é capaz de transportar 555 passageiros e busca aprovação para subir esse número para cerca de 800. Tudo considerando uma prevista avalanche asiática no futuro próximo. Mas tanto a Boeing como a Airbus prometem mais surpresas para a faixa dos 250/300 passageiros. O Boeing 787 voará pela primeira vez em 2008, e um modelo semelhante da Airbus o fará um pouco mais tarde. Ambos vão empatar em inovações e aprimoramentos. Outra grande novidade para os próximos anos: o incrível alcance de uma versão do Boeing 777 e do Airbus A340, projetados para voar sem escala 14 mil ou mais quilômetros de distância. O surpreendente é que, mesmo com quase o dobro de passageiros previstos para os próximos dez ou 15 anos, a frota mundial de jatos comerciais ainda estará composta por cerca de 60% de aeronaves de um corredor (narrow-body), com capacidade para transportar de 70 a 175 passageiros. É bom lembrar que nessa faixa está entrando, gloriosamente, o E-Jet Embraer 170/190, já em operação e já encomendado por algumas das mais importantes companhias aéreas do mundo.

 

Combustível, cada vez mais precioso

Um dado real que pode parecer fantástico: a aviação comercial consome cerca de 200 bilhões de litros de combustível por ano. Com os preços astronômicos do barril de petróleo, as companhias aéreas vêem comprometidas suas perspectivas de lucro, e justamente num período de promissora recuperação do tráfego aéreo mundial. O que resta a elas é instituir e fazer cumprir uma série de medidas e procedimentos ao seu alcance para valorizar cada gota de querosene colocada nos tanques. A maioria dessas decisões diz respeito à limitação do peso morto representado por aquilo que chamamos normalmente de chorinho em qualquer bar em terra firme. Em outras palavras: não usar nem uma gota a mais do que o combustível estritamente necessário e reduzir outras fontes de peso e de consumo. Não sabemos quais são as medidas que nossas companhias aéreas vão instituir, mas é interessante mencionar algumas das providências já planejadas ou em curso na América do Norte e Europa. Entre elas, está o menor uso do APU, a unidade geradora de energia e ar comprimido que funciona quando o avião está estacionado; o uso de aeroportos alternativos mais próximos e seguros, mesmo que não ofereçam todo o conforto aos passageiros. Mais: realizar as operações de taxiamento no solo com metade dos motores – um só nos bimotores e dois nos aviões de quatro motores. E, como disse, sem chorinho: não abastecer os tanques com nem um litro a mais do que o previsto no plano de vôo e, finalmente, reduzir os tempos de taxiamento. O que, aliás, depende muito mais da competência da torre, que autoriza a ação do push-back (trator que empurra o avião para a pista) e o consequente acionamento dos motores, manobra que exige grande precisão no caso de pistas congestionadas. Que esperar na fila com o motor ligado... Uma coisa é certa: mais cedo ou mais tarde, todos vão ter que abrir mão da confortável situação existente no início de 2004, quando o barril de petróleo custava a metade do que hoje.

 

Pacote elétrico cada vez maior

Somados os fios e cabos de todos os diâmetros e comprimentos presentes num grande avião, o resultado pode totalizar centenas de quilômetros. O avião conta ainda com centenas de pontos de utilização de energia elétrica em corrente alternada de 115 volts e corrente contínua de baixa tensão. É prática usual nesses sistemas de geração e distribuição manter uma boa reserva para picos de consumo e situações anômalas. O aumento de quilowatts nos novos modelos não pode ser comparado ao que será gerado a bordo dos megajatos Airbus A380 – em fase de ensaios de vôo – e nos futuros A350 e Boeing 787 Dreamliner, todos acenando com uma nova dimensão em entretenimento de bordo e um grau de conectividade comparável ao que já conhecemos em terra firme ao utilizar laptops e celulares individuais, internet de banda larga, e-mail, Wi-fi (enlace a distância) e tudo mais. Num avião wide-body atual, o maior consumo de energia é representado pelo aquecimento antigelo e antiembaçamento dos pára-brisas. Mas mesmo acrescentando os 16 fornos e as dezenas de supermáquinas de café da galley, e somando-os aos recursos eletrônicos de navegação, comunicação e sistemas de apoio (aviônicos), ainda estaremos longe do que será o pacote elétrico dos avançados jatos que entrarão em serviço entre 2006 e 2010. Além de ver cada aeronave dessas contando com dois e não apenas um alternador por motor, podemos nos preparar para a eletrificação de sistemas totalmente inéditos. As redes de distribuição a bordo poderão dispor de uma variedade de tensões e freqüências, inovação que dará um novo grau de liberdade aos projetistas, originando um pacote elétrico muito maior, mais flexível, mais eficiente e mais seguro.

 

Passageiro em pé?

Muitas companhias aéreas estudam seriamente como compactar ainda mais os passageiros que viajam na classe econômica, em nome da lucratividade cada vez mais crítica. É que as companhias não têm como assimilar os custos operacionais crescentes, do combustível em especial, que não podem ser simplesmente repassados aos passageiros. Assim, pode chegar o dia em que uma passagem na classe econômica comprará apenas uma baia adaptada para que o passageiro viaje de pé – em vôos curtos, naturalmente. Não seria contra a lei: na decolagem e no pouso, não se exige que o passageiro esteja sentado se ele estiver firmemente “amarrado” a uma estrutura que impeça seu deslocamento nas manobras. Por isso, sem muito alarde, um dos dois únicos fabricantes de Jumbos está oferecendo esse achado a algumas companhias aéreas asiáticas, cuja rede de rotas inclui muitos vôos de curto alcance e sempre lotados. O pouco interesse inicial das companhias aéreas abordadas não significa que elas estejam satisfeitas com a situação atual, a se julgar por seus esforços para inserir uma fileira de poltronas que seja num espaço já tão exíguo. Atualmente o chamado pitch, ou o espaço para as pernas, está sendo aumentado em alguns centímetros com o desenvolvimento de novas poltronas, mais esbeltas e leves, com encostos de menor espessura. Em teoria, essa mudança permite oferecer uma folga – minúscula, mas real – para as pernas. Na prática, a nova tecnologia, que deveria beneficiar o passageiro, é utilizada para instalação de uma ou duas fileiras adicionais de poltronas, o que invalida as boas intenções de seus fabricantes. Elas são cerca de 4 quilos mais leves, reduzindo assim o consumo de combustível (cada quilo excedente representa, em média, 200 litros a mais por ano). Assim, se o pitch fica o mesmo, resta a pergunta: em viagens curtas, o desconforto de um passageiro sentado e apertado não poderá ser maior do que se ele simplesmente viajasse em pé?

 

Celular no avião?

A permissão para o uso irrestrito do telefone celular a bordo deve ocorrer nos próximos meses. Não existirão mais limitações, graças a um sistema especial de retransmissão que elimina a eventual interferência dos sinais de rádio-freqüência nos instrumentos do avião. Assim, os executivos que não conseguem se separar de seus celulares poderão perseguir oportunidades de negócio até durante o vôo. O advento da nova era da comunicação nas alturas não conta, por enquanto, com a aprovação consensual dos homens de negócios nos Estados Unidos. Em uma pesquisa feita com mais de 100 mil executivos, cerca de dois terços disseram não ao celular no avião, por conta da destruição do que seria o “último reduto de tranqüilidade para o homem de negócios”. Muitos afirmam que uma viagem de algumas horas é a melhor oportunidade para trabalhar sem ser interrompido, ler a revista de bordo e um bom livro, ver um filme ou descansar. Alguns mencionam que não se deve esquecer o exibicionismo empresarial explícito, que passaria a existir também no avião, com o nível de voz ao telefone celular sempre mais elevado para se sobrepor aos ruídos normais de um vôo. Para os tripulantes de cabine, o não é quase unanimidade. Comissários e comissárias, que procuram sempre diminuir algum desconforto dos passageiros, não gostariam de ter um fator a mais de estresse dentro do avião. Mesmo assim, se a idéia vingar, o último argumento para demover os usuários freqüentes do celular aéreo será uma cobrança elevada para o novo serviço, decorrente da instalação de uma miniestação de base a bordo, que representa mais um custo para a companhia aérea, a ser somado à internet, TV por satélite e outros mimos eletrônicos que constituem diferenciais competitivos.

 

 

 

MATÉRIAS

Demoiselle, de novo

O filme antigo, escuro, desbotado, mostra Santos Dumont decolando com o seu Demoiselle em 1907, um avião moderno, parecido com um ultraleve dos dias de hoje, esbelto, motorzinho com som de lambreta e, sobre a cabeça do piloto, um tanque de gasolina niquelado em forma de cilindro com capacidade para uns 5 ou 6 litros. O leme de cauda e o leme de direção constituem uma peça única, com um complexo quebra-cabeça de roldanas e cabos montados com muito engenho na cauda do avião, funcionando como uma peça pivotada manobrada com movimentos semelhantes aos dos aviões atuais. No filme da época, ao acelerar, o avião dá uma guinada para a direita, prontamente corrigida por dois de seus atentos colaboradores, que redirecionam a cauda para o eixo da pista, ou melhor, do parque gramado de onde o aparelho levanta vôo com facilidade. Na ânsia de ajudar, os empurradores do avião seguem correndo atrás do aparelho até a decolagem do primeiro vôo de Santos Dumont no Demoiselle.

Todo mundo que já fez um vôo solo sabe da emoção da primeira vez, quando o instrutor desce do avião, depois de alguns “turnos de pista”, para deixar o aluno voar sozinho. Imagine então o que deve ter sentido Santos Dumont, que testava pela primeira vez o sistema de direção de seu Demoiselle, inventado por ele mesmo, e que, com pequenas modificações, segue sendo utilizado até hoje. Assim, para subir, o cabo de aço levava o leme para trás e, para descer, empurrava para a frente. Para fazer as curvas, além de virar o leme para o lado certo, havia uma coisa mais complicada a fazer, tendo em vista que o avião não tinha ailerons, aquelas superfícies que ficam no bordo de fuga de cada uma das asas e que inclinam o avião ao se movimentar em sentidos opostos. Como esse sistema ainda não havia sido criado, o inventor brasileiro bolou um colete preso com cabos de aço às asas comandadas pelo balanço do seu corpo, de forma a envergar apenas uma das asas cada vez que desejava inclinar o avião para fazer a curva. Só que, nesse caso, a inclinação tinha de ser oposta ao sentido da curva, o que deve ter complicado bastante a vida do brasileiro, piloto número 1 do Aeroclube da França, em uma arte cujo único professor, até então, era ele mesmo.

E quem quisesse aprender a voar precisava procurá-lo, como aconteceu com Roland Garros, que se tornou um legendário piloto francês e que dá nome ao torneio de tênis. Passados tantos anos, uma notícia da atualidade surpreendeu até mesmo as pessoas que conhecem sua premonição e inventividade, ao revelar que existem estudos modernos que levam em conta a possibilidade de se envergar as asas, de modo a melhorar o desempenho de um avião de última geração. O Demoiselle era feito de bambu e seda japonesa amarela, tinha 8 metros de comprimento e era carregado na traseira de seu carro. Como o inventor nunca patenteou suas criações, o modelo teria tido 300 clones, inclusive na Alemanha e Argentina. Foi nesses aparelhos que a geração pioneira aprendeu a voar. Santos Dumont tinha diversão garantida em seus finais de semana, quando se dirigia, voando a uns 40 metros de altura, às fazendas e chácaras de seus amigos franceses para almoçar, retornando em seguida a Paris, sob aplausos do público que sobrevoava.

Quase cem anos depois, em 2005, na pista asfaltada de Itanhaém, o aviador Fernando de Arruda Botelho coloca o seu Demoiselle em posição de decolagem... e lá vem ele, tal qual a aeronave pioneira, barulho de lambreta acelerada produzido por um motor de Fusca cortado ao meio. Assim como o aparelho de Santos Dumont na estréia, o aviãozinho joga a cauda para o lado e começa a correr pela lateral da pista, em busca de sustentação. Agora é a vez de corrermos, nossa fotógrafa e eu, atrás do avião, emocionados por estarmos testemunhando uma decolagem igual à de 1907, agora para fotografar. Enfim o avião consegue decolar, sobe uns 4 metros e desce de novo sobre a pista após alguns minutos. Mesmo após a curta decolagem, Arruda Botelho tem ressalvas a respeito da capacidade dessa réplica alçar vôo, estando quase pronto um segundo modelo, mais apto a atingir as alturas em que Santos Dumont voava em Paris. Coisa de perfeccionista descontente com o bravo desempenho da aeronave, que cumpriu sua missão em grande estilo. Nosso piloto de prova tem razão ao observar que o baixinho inventor brasileiro pesava 54 quilos, enquanto ele mesmo pesa 86 quilos, uma desvantagem inapelável. Fosse Santos Dumont mais gordo e o mundo poderia ter perdido seus inventos geniais.

 

NY Secrets

texto e foto: Roberto Cattani

O bar preferido de Marilyn Monroe, os túneis das gangues de nova york, um restaurante todo Klimt, os mosaicos mais belos do mundo...

Sugerir um passeio com emoção por essa tão globalizada e devassada Nova York, afinal, não é fácil. Então fui buscar o que, apesar das muitas viagens, eu não sabia da cidade, pequenos segredos, curiosidades. Só em Manhattan encontrei muitas dessas bizarrias, que, no fim, é o que mais a gente lembra de uma viagem. De alguma forma, você sempre estará perto de um lugar desses; arrisque uma visitinha. Já ao andar pela Broadway, lembre-se de que é uma boa trilha para percorrer Manhattan desde os tempos dos weckquaesgeeks, os índios que ocupavam a península e que venderam essa hoje mítica ilha aos holandeses em troca de... facas, machados e contas de vidro (há um monumento lembrando esse momento na extremidade sul de Manhattan). Na Broadway começa a Wall Street, maior centro financeiro do mundo. E por que Wall Street? Porque havia ali o primeiro muro protegendo a cidade nascente, na verdade uma trincheira feita de troncos de árvores, de 4 metros de altura, erguida em 1635. Pouco depois da esquina com a Broadway, pode se ver o ponto em que o muro começava. A poucos metros dali, onde hoje está o cemitério de uma igreja, erguia-se um sicômoro, árvore frondosa em cuja sombra tanto se reuniam os comerciantes da cidade que ali foi surgindo um mercado, e depois os armazéns, e depois os bancos e, por fim, a Bolsa, a Bolsa que hoje rege o mundo.

Grandes coisas, já se vê, podem nascer à sombra de um... sicômoro. Seguindo para o norte pela Broadway, mais dois momentos históricos: o antigo prédio da American Telephone & Telegraph Company, cujo hall de entrada é uma gigantesca floresta de colunas dóricas, maiores que a do Partenon, e o Woolworth Building, que foi o maior prédio do mundo até 1930, isto é, até a construção do Chrysler Building. Era chamado a “Catedral do Comércio”. Donde se parte? Claudia: parte-se das possibilidades que o espaço físico oferece, do que já existe e merece ficar, e do que pode ser recriado em novo cenário. Das finanças para o cinema. Saindo da Broadway, pegue à direita rumo a Chinatown e caia direto no clima noir do filme Gangues de Nova York, de Martin Scorsese. Você vai passar por um túnel que era o caminho secreto de fuga ou o atalho para ataques de surpresa entre as gangues (o endereço é 5 Doyers Street). Hoje o túnel abriga lojas meio misteriosas como a Tin Sun Metaphysics ou a Leong Wah Soul & Body Medicine Parlour. Se quiser p fmais sustos, no número 2.486 da Broadway fica a Murder Ink, divertida livraria especializada em mistério e crime.

Voltando para a Broadway, quase na esquina com a Duane Street está o Danube, um restaurante vienense cuja decoração é a reprodução perfeita dos quadros de Gustav Klimt, incluindo o famoso beijo. Seguindo em frente até a Hubert Street, na esquina com a Collister, podem-se ver as cocheiras de 1882 da American Express, quando ela era ainda uma empresa de entregas rápidas, como hoje a FedEx. Agora, algumas curiosidades para o seu lanche em Manhattan. No Border Bistro (331 W. 4th St.) estão os hambúrgueres favoritos de Bruce Springsteen (que mora ali perto). Meio escondida no número 379 da Grand Street está a Doughnut Plant, que faz os melhores doughnuts do planeta. Sempre do lado oeste, a Sullivan Street é pura magia, literalmente. No Greenwich Village, a John’s Pizzeria(278 Bleecker St.), fundada em 1929, é a preferida ainda hoje de Woody Allen, Johnny Depp, Jack Nicholson, Danny DeVito e Matt Dillon.

Voltando à trilha da Broadway, uma pausa no terraço do Bryant Park Grill, o lugar mais doce naquele turbilhão, e depois, na 42nd, perto da Times Square, contemple o Empire Theater. Mas por que uma fachada feinha de um teatro (hoje um cinema multissalas) seria um segredo da cidade? Porque o edifício que se vê hoje (234 W. 42nd)p fna verdade foi construído a 60 metros dali, e a fachada em 1998 foi deslocada sobre trilhos (2,5 mil toneladas) até a posição atual quando o resto foi demolido. A três quarteirões do Empire, a Grand Central Station merece uma visita por causa do seu lobby monumental e do Oyster Bar, um dos melhores pontos para frutos do mar em NY. Mas, especialmente para quem viaja com crianças, vale a pena verificar um pequeno segredo da Grand Central: a Whispering Gallery.

Posicionando-se contra um dos pilares em cada extremidade da abóbada quadrada, logo em frente ao Oyster Bar, dá para escutar nitidamente outra pessoa falando na mesma posição na outra extremidade. As crianças adoram. Sempre seguindo a Broadway, na esquina com a 66th, uma surpresa: a estação do Subway está decorada com mosaicos de pastilhas de vidro, considerados os mais refinados do mundo. Descendo novamente para o sul, ao longo da Lexington Avenue, na esquina da 60th há um gigantesco arranha-céu e, englobada na sua base, um predinho de tijolos: conta o folclore da cidade que o imóvel pertencia a uma velha senhora italiana, a qual foi recusando as mais tentadoras ofertas; os construtores desistiram e acabaram encaixando o prédio no projeto. Ela ainda mora ali, no andar de cima; o térreo é uma loja da Levi's. Para concluir, o que haveria de melhor que uma lembrança de Marilyn Monroe? Do outro lado da 60th, na esquina da Lexington, o Subway Inn é uma relíquia dos tempos da diva. Esse era o bar preferido da atriz, com o jukebox, o ventilador de teto e os néons coloridos vermelhos, verdes e azuis. Uma noite, saindo do Subway Inn, meio bêbada, durante a filmagem de O Pecado Mora ao Lado, Marilyn parou em cima de uma grade do metrô, quase na frente do bar, fazendo esvoaçar a saia e inspirando a cena imortalizada depois no filme.

 

André na Disney

texto: Camilo Borges fotos: Paulo Fridman

Durante dez dias, o fotógrafo Paulo Fridman registra as emoções do filho na capital mundial do faz-de-conta

Como os muçulmanos vão Meca e os católicos prezam uma bênção do papa em Roma, pais de todos os credos sonham em peregrinar com os filhos pelo Disney World. Alguns viajam leves, sem crises, outros, mais intelectualizados, ainda se perguntam se, bem, se isso é política e educacionalmente correto. Se não se trata de um mero consumismo mágico, mais um dentre tantos. Ícaro tenta dar aqui sua contribuição ao debate. Claro que uma revista de bordo tem seu jeito próprio de... abordar uma questão. O nosso foi aproveitar a viagem à região de Orlando de um dos melhores fotógrafos brasileiros, Paulo Fridmam, para confiar-lhe uma doce e delicada missão: registrar as reações do filho André, de 9 anos, diante de toda aquela maquinaria de lazer e fantasia. Imagens não dizem mais que palavras? Assim que, de pai a tiracolo, nesses dez dias André encarou o que pôde em Orlando e arredores. Foi pirata do Pirate’s Dinner Adventure, cowboy mexicano no Magic Kingdom, submeteu-se a todas as vertigens da montanha-russa do Busch Gardens. Jogou minigolfe no Congo River Adventure Golf, na ciclovia do West Orange fez 19 milhas de bicicleta. No Fun Spot Action Park, quase foi campeão da Fórmula 1.

No Sea World, conversou com golfinhos e nos Estúdios da Universal, enfrentou Tubarão. Nos Wonderworks, encarou um tornado completo e uma bolha de sabão gigante, porém não assassina. No SkyVenture Orlando, viveu na alma e no estômago o que é voar de pára-quedas. No Orange Blossom Balloons, viajou p fde balão pelos céus de Orlando e foi condecorado por isso. No Kennedy Space Center, viu pedras da lua e um caminhão-plataforma de transportar foguetes, a maior jamanta do mundo. No Nickelodeon Family Suites, o dia já começava com Bob Esponja em pessoa, no café da manhã. Retomando a questão inicial: no entorno de Orlando foi montada, como se viu, minuciosamente, a maior e mais perfeita simulação de todas as brincadeiras possíveis, do mundo e suas culturas, da vida e seus espantos. Se vale ou não vale a pena, podendo, levar os filhos? Teoricamente, a questão pode ir longe. Mas reveja as fotos: diante de um rosto encantado de criança, dizer o quê? Elas, as crianças, levam a sério aquele mundo de fantasia. E o nosso mundo sério não é tão sério como parece. Pai e filho Paulo Fridman formou-se em engenharia pelo Mackenzie, sonhava ser músico e tornou-se fotógrafo por acaso. Hoje faz trabalhos para o New York Times, as revistas Time e Der Spiegel e para a maioria das boas publicações nacionais. Sua exposição Retratos Falantes, com gente anônima dizendo o que sonha, percorreu museus de Londres, Nova York e São Paulo, onde agora está na estação de metrô da Vila Madalena. André Fridman é estudante e faz a 4ª série.

 


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