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ÍCARO BRASIL Nº 191 - Julho de 2000

 Welcome

Para todas as agendas

Quem adquire uma passagem aérea está comprando, essencialmente, tempo, velocidade. A pessoa que viaja a negócios procura otimizar ainda mais esse tempo comprado. Sua expectativa é que o vôo e as rotas se adaptem docilmente, sem maiores lacunas, à sua ocupada agenda. Costumo brincar que o sonho desse passageiro é encontrar o avião prontinho à sua espera - de portas abertas, comissárias sorridentes, piloto a postos. É chegar, embarcar e, se possível, desembarcar no jardim da própria casa.

Bem, nem tudo é possível. Em todo o caso, cabe à empresa aérea rever contínua e atentamente a freqüência dos seus horários e inteligência das suas rotas para facilitar ao máximo a vida do passageiro neste mundo de negócios cada vez mais velozes e agendas cada dia mais lotadas.

É dentro dessa filosofia que, sensível à demanda dos passageiros, a VARIG está reestruturando decididamente algumas de suas rotas e freqüências. Para Munique, a freqüência dos nossos vôos passa a três por semana, por enquanto. Para Los Angeles, serão dois vôos diários e, para Lima, um. No caso de Buenos Aires, com sete vôos diários, estamos lançando, pode-se dizer, a primeira Ponte Aérea Brasil-Argentina.
Nossas freqüências domésticas também estão aumentando com mais um vôo para Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Brasília.

A idéia é oferecer mais opções, responder às mais variadas expectativas, facilitar a vida das agendas mais exigentes. Seria exagero dizer que vamos realizar o tal sonho do avião sempre ali, prontinho, à espera. Mas, como muitos passageiros já podem constatar neste mês de julho, estamos voando nessa direção.

Ozires Silva
Presidente da VARIG

 

 Entenda seu vôo

O fim da turbulência

O encontro de um jato de passageiros com ar turbulento é uma ocorrência rara, principalmente nas grandes altitudes de cruzeiro. Os passageiros que viajam com freqüência já estão familiarizados com o fenômeno e não lhe dão maior importância, especialmente quando ele é de baixa intensidade e curta duração.

Já alguns passageiros que voam só de vez em quando tendem a admirar ou condenar determinado modelo de avião por causa de uma turbulência que tiveram de tolerar no passado. Contudo, o comportamento de um jato ao penetrar uma massa de ar depende de fatores que vão além de suas dimensões e de seu desempenho operacional. O importante é que o projeto de qualquer aeronave moderna leva em conta sua perfeita resistência estrutural (com muita folga) às condições mais severas de turbulência previsíveis.

Analisar a origem, a natureza e a intensidade de massas de ar ascendentes e descendentes, vórtices verticais ou horizontais, ondas estacionárias, etc. quase exige um curso de meteorologia. O que o passageiro deve saber é que antes da decolagem e durante o vôo os pilotos têm uma boa idéia das condições de tempo que vão encontrar. O vôo acima da camada de nuvens, tornado possível pela pressurização da cabine, os modernos detetores de núcleos turbulentos - como os radares meteorológicos e outros recursos mais recentes - maximizam o conforto dos vôos comerciais. Os sistemas digitais de navegação e comunicação via satélite, em fase de ensaio, permitirão o regime de "vôo livre", conferindo total autonomia às tripulações quanto à escolha da rota e da altitude. A turbulência é, assim, um fenômeno em extinção.

Ernesto Klotzel
Editor de Aviaçã
o

 

 Mundo VARIG

Novos quiosques VARIG
A VARIG inaugurou mais dois pontos de atendimento: um no Shopping Center Recife e outro no Amazonas Shopping Center, em Manaus, em que o cliente poder· fazer reservas de passagens, nacionais e internacional, o fast check-in, e também a inscrição no Programa Smiles, além de obter informações do grupo VARIG e das empresas da Star Alliance. No Recife: R. Pe. Carapuceiro, 777, Boa Viagem; em Manaus: av. Djalma Batista, Parque P/10. De segunda a sábado, das 10 as 22 horas, e aos domingos das 15 as 21 horas (Manaus) e das 12 as 20 horas (Recife).

Outros voos para Los Angeles e Lima
A partir de 15 de julho a VARIG passa a operar mais um voo diário para Los Angeles, oferecendo, assim, duas saídas por dia para a efervescente meca do cinema. E, desde 1† de julho, está voando diariamente para Lima, em voos nonstop com os modernos jatos Boeing 737-700.

 

 Rio Sul

Compartilhando soluções

Reiteradamente considerada em crise, a indústria aérea aguarda com grande expectativa a nova regulamentação do setor. A ansiedade se justifica. Com a criação da agência que vai substituir o Departamento de Aviação Civil em suas atuais atribuições de regular e controlar o transporte aéreo, o que está em jogo é o destino da nossa aviação comercial. Paradoxalmente nenhum dirigente de empresa aérea foi chamado a participar de tão importante discussão. Com sua larga experiência eles poderiam expressar como ninguém as reais dificuldades e conquistas do setor.

Sim, também as conquistas. Especialmente em momentos de crise, bons resultados podem se revelar inspiradores e a Rio Sul orgulha-se de poder contribuir nesse sentido. Com oito anos consecutivos de resultados positivos, a empresa destacou-se por fechar o primeiro quadrimestre deste ano com lucro bem superior ao orçado. Não existe segredo para esse sucesso. O fato se deve a um planejamento estratégico no qual procuramos atender aos interesses dos colaboradores, clientes e acionistas.

Colaboradores motivados e engajados, clientes satisfeitos e reconhecidos e acionistas com resultados claramente partilhados formam os pilares de sustentação da Rio Sul em sua bem-sucedida trajetória. Só esperamos que essa rota ascendente, tão firme e criativamente conquistada, só venha a ser reforçada - e não prejudicada - pelas novas regulamentações em discussão.

Percy Rodrigues
Presidente da Rio Sul Linhas Aérea

 

Comissárias de bordo: uma função  cada vez mais importante

Para Cristiane Guilhem, Gerente Geral do Comissariado de Vôo da Rio Sul, a comissária é, hoje, plenamente uma mulher de aviação

Quando Cristiane, que tinha dois tios ligados à aviação, disse, ainda pequena, que queria ser aeromoça, a mãe foi taxativa: "Só com diploma". Ela então foi fazer literatura e inglês na PUC de São Paulo, mas vendo nessas disciplinas, especialmente no inglês, meras ferramentas para seu sonho. Aos 22 anos já fazia parte da equipe de comissárias da VARIG, onde ficou até 1991. Aí, com dez anos de empresa e muitas horas de vôos nacionais e internacionais, decidiu dar um tempo em terra, lecionando inglês.

Mal agüentou um ano. Voltou aos céus ingressando na Rio Sul, onde começou, ou recomeçou, "voando solada" no Brasília. Com 30 lugares e atendido por apenas uma comissária, o simpático Brasília funciona como uma espécie de avião-escola. Enquanto num MD-11 ou DC-10 a comissária trabalha ao lado de mais 17 companheiros, é a bordo do Brasília que ela toma plenamente consciência de sua importância. É como, para um piloto, um vôo solo.

Rebatizada pelo Brasília, Cristiane retomou sua carreira Brasil afora pelas asas da Rio Sul, nos diferentes aviões da frota, Fokker, Boeing 737-500, Jet Class 145... Modernamente, uma comissária é, no pleno sentido, uma mulher de aviação, sua função transcende o visível e fundamental trabalho a bordo. Hoje ela perfaz toda uma carreira que é, de certa forma, paralela à de um piloto, cumprindo importantes funções como chefe de equipe, instrutora em terra, instrutora em vôo, gerente de base, chefe de treinamento, gerente geral.

Cristiane Guilhem é hoje Gerente Geral de Comissariado de Vôo da Rio Sul. Ela comanda um pequeno exército de 530 comissárias diariamente voando pelos céus de Brasília, Uberaba, Goiânia, Londrina, Joinville, Pelotas, Uruguaiana... Pausa para um belo indicador de crescimento: quando Cristiane entrou na Rio Sul, as comissárias eram um pouco mais de 50, hoje são 530 e, até o fim do ano, serão perto de 600. Serão 1/4 de todo o corpo de funcionários da empresa.

Uma presença notável, também qualitativamente. Na Rio Sul, explica Cristiane, a gerência de comissariado contou com estímulo e liberdade para desenvolver e definir seu setor, desde o manual de procedimentos até o uniforme. O uso de calças compridas, que facilitam os movimentos e protegem no inverno (elas voam o Sul), foi, por exemplo, uma decisão até certo ponto revolucionária. Outra postura elogiada: para que possam ficar o menos tempo possível longe dos filhos, as mamães comissárias contam com uma programação de escala tipo bate-e-volta. Foi essa ampla confiança por parte da empresa, lembra Cristiane, que resultou na montagem de um grande time motivado, simpático, solidário. Nesse clima, cursos e seminários vêm enriquecer continuamente as carreiras. A cada seis meses, há, por exemplo, um curso de atualização em primeiros socorros. Não faltam ainda seminários sobre gerenciamento de stress e workshops de celebração do próprio trabalho - uma reenergização para viver plenamente o indispensável alto-astral da profissão.

Resultado: uma equipe preparada inclusive para missões especiais, como foi o caso da habilitação do jato ERJ-145/Jet Class. Quando a Embraer lançou o hoje internacionalmente disputado modelo, coube à gerência de comissárias da Rio Sul montar todo o procedimento de habilitação da nova aeronave, desde cursos de treinamento até provas para o DAC, Departamento de Aviação Civil. Para a homologação do 145, ressalta Cristiano, foi realizada uma delicada prova na presença dos representantes do DAC brasileiro e da americana FAA, Federal Aviation and Administration. Uma equipe teve de simular a evacuação dos passageiros em 90 segundos e com metade das saídas bloqueadas. Com pleno sucesso.

Resta uma pergunta. Como é a carreira de uma comissária? Bem, ela começa com um curso, de quatro a seis meses, numa das muitas escolas especializadas, onde se aprende, entre outras coisas, o básico sobre a parte técnica dos aviões, prática de primeiros socorros, localização de uso de equipamentos contra incêndio. Depois, dois requisitos básicos: exame de capacitação física concedido pelo Ministério da Aeronáutica e uma carteira de habilitação do DAC. Essa habilitação é dada para diferentes tipos de aparelho, com exames específicos a cada um deles. Mas o importante para o sucesso na carreira, conclui Cristiane Guilhem, é se sentir bem na empresa e gostar de aviação: "Mesmo os trabalhos em terra giram sempre em torno do avião. Ele é a estrela. Tem que gostar".

 

OZIRES SILVA
Novo milênio, velho Brasil?

Para o presidente da VARIG, é hora de pensar com grandeza

Ozires Silva, o novo presidente da VARIG, paulista de Bauru, tem um olhar sorridente e um ar de quem não perde o humor nas piores turbulências. Aliás, parece que às vezes ele até as procura, as turbulências. Quando, no início dos anos 50, formou-se oficial-aviador teve, por boas notas, a chance de escolher sua Base Aérea. Escolheu a que para muitos era desterro: Belém do Pará. Queria, simplesmente, conhecer aquele lado do Brasil. Depois de quatro bem voados anos de Amazônia, o brigadeiro Eduardo Gomes convidou o seu grupo para integrar o lendário Correio Aéreo Nacional, com base no Rio. Foi sua oportunidade de, como diz, "esticar as asas", fazer Ph.D. em Brasil.

Como instrutor de vôo do Correio Aéreo, uma vez, em plena madrugada, ele teve que fazer um check num colega que cursava engenharia no ITA. Conversa vai, conversa vem, "subi piloto, desci engenheiro", resume Ozires. Formado em engenharia pelo ITA e já trabalhando no CTA do Ministério da Aeronáutica, começou a defender a idéia da criação de um moderno e bem concebido modelo de avião que fizesse o transporte aéreo voltar a atender as pequenas e produtivas cidades do interior. Nascia aí o Bandeirante e, em torno dele, praticamente, a Embraer. O ministro da Aeronáutica ordenou que assumisse a presidência da nova empresa e Ozires, tenente-coronel, bateu continência. Ficou na Embraer 16 anos, foi também presidente da Petrobras e ministro da Infra-estrutura. Voltou à Embraer para colaborar na bem-sucedida privatização da empresa. Indicado para o Conselho de Administração da VARIG, um ano depois era eleito presidente. Ozires Silva recebeu Ícaro Brasil no seu escritório em São Paulo.

Ícaro Brasil - Qual Č a VARIG dos seus sonhos?
Ozires Silva - Eu diria: dos nossos sonhos. Š simplesmente histórico dizer que ela Č, um pouco, de todos nós. A VARIG tem uma bonita história de 73 anos. Conseguiu consolidar sua posição em meio aos grandes limites tecnológicos dos anos 30, atravessou a II Guerra operando com sucesso, sobreviveu galhardamente aos embates da modernização do transporte aéreo brasileiro, tornando-se, merecidamente, uma empresa de bandeira. Nos ™últimos anos tem sofrido os impasses de um país que faturou uma década perdida, a de 80, e não conseguiu ganhar plenamente a de 90, apesar dos ganhos do Plano Real. O que aconteceu com a VARIG foi reflexo dessa situação global. Não Č só o homem, as organizações também são frutos do meio.

IB - Como o senhor vê o atual momento da aviação brasileira?
OS - Eu gostaria de vÍ-lo integrado neste momento maior do Brasil e do mundo. Vivemos um momento m·ágico: surge um novo milênio e o Brasil faz 500 anos. Š hora de refletir sobre o que conseguimos no passado e o que vamos proporcionar aos outros no futuro. Queremos olhar o futuro do mesmo jeito para colher os mesmos resultados? Insisto em que o momento Č m·ágico para nos repensarmos corajosamente como sociedade e não para ficar só culpando governo, pessoas ou empresas pelo sucesso ou insucesso que tiveram nas condições em que foram obrigadas a atuar. Infelizmente, num país que precisa crescer, criamos, por exemplo, uma sociedade razoavelmente hostil ao empreendimento e ý produção. No Brasil, quem coloca seu dinheiro na poupança fica livre das taxações do Imposto de Renda. Se investe numa empresa, Č estigmatizado, pois está· buscando lucro. Temos que criar um novo modelo de país, viver este momento m·ágico dos 500 anos e do novo milênios de forma criativa, pensando em construir um mundo melhor para todos. Š nesse contexto que eu vejo o papel das empresas, especialmente, Č claro, da VARIG.

IB - Em relação ao país, como reacender essa chama?
OS - Acreditando nela. Eu estava lendo aqui um artigo sobre a recuperação da Irlanda. Impressionante: ao descrever a situação da Irlanda 20 anos atrá·s, os primeiros par·grafos parece que falavam do Brasil de hoje. Juros altos, déficit nas contas p™úblicas, governo inchado, taxações elevadas. Bem, eles simplesmente decidiram mudar. Baixaram impostos, enxugaram o governo, reduziram a burocracia. No ano passado a Irlanda foi o país que mais cresceu na Europa. A It·lia passou por um processo semelhante. Chega uma hora em que basta todo mundo querer. Pensar nos grandes valores culturais que devemos reforçar e fazer crescer para criar e entrar no novo milênio de uma forma diferente - cada um dando a sua contribuição. Numa empresa como a VARIG tem-se uma grande oportunidade de realizar isso.

IB - De que forma?
OS - Meu sonho Č ver toda uma família VARIG empurrando a empresa na mesma direção, em busca do melhor para o funciona·rio, o cliente e o acionista. Li dias desses uma f·bula muito interessante. Um rei prometeu uma grande recompensa para quem respondesse quais eram as três coisas mais importantes do mundo. E quais foram as três? A primeira: o momento atual, nem o antes, nem o depois. A segunda: o interlocutor com quem estamos falando. A terceira: fazer esse interlocutor feliz. E esse Č o espírito que gostaria de incutir na família VARIG, especialmente naqueles que tem contato direto com o cliente. Eles são o próprio rosto da empresa e nas mãos deles est· a oportunidade de tornar a viagem o mais agrad·vel possível.

IB - Como o senhor vê a política do governo para o transporte aéreo?
OS - O governo está acenando, corretamente, para a criação de uma Agência Nacional de Aviação Civil. Esperamos que materialize a ideia de uma forma igualmente correta. Na direção de um modelo ágil, flexível, atento á realidade do mercado. Em que todos sejam ouvidos. Nós, os presidentes de empresas aéreas, comandamos, juntos, uns 200 anos de experiência no setor. O fato é que as empresas precisam de condições justas para operar e concorrer. Nós podemos ter o nosso companheiro de equipe segurando nossa camisa para que a gente não faça o gol. Não é possível continuar erodindo a capitalização dessas empresas com um pesado tipo de tributação e regulamentação. Fala-se em abrir nossos céus para empresas de fora. Ora, operando nas mesmas condições, o mais provável é que elas obtenham aqui, no máximo, resultados idênticos aos nossos.

IB - A Star Alliance deu certo?
OS - O mundo esta cada vez mais ligado. Alianças, parcerias, troca de experiências, joint ventures fazem parte das novas regras do jogo. Vivemos a desnacionalização do consumidor. As empresas devem permanecer atentas ao que pensa e espera esse novo cidadão do mundo. Dentro desse quadro, a Star Alliance não só está dando certo como pretendemos investir mais nela. Ela nos permite embarcar um passageiro numa pequena cidade da Amazônia e desembarcá-lo no interior da Ásia - viajando sob nossas cores.

IB - Uma palavra final?
OS - Vamos renovar. O Brasil tem tudo para voltar a crescer. Um país grande, clima propício, sem conflitos raciais e religiosos, uma população trabalhadora, e capitalista: gosta de gastar! Temos que pensar um destino melhor para os próximos 500 anos. Uma vez, há quase meio século, viajando pela Amazônia, meu hidroavião Catalina pousou num rio junto é chamada tríplice fronteira, entre Brasil, Colômbia e Venezuela. A verdade é que não sabíamos direito onde estávamos. Meu co-piloto abriu a janela de emergência do teto, ficou em pé no banco e perguntou para um sujeito na margem: '"É aqui que o Brasil termina?" Com muito orgulho e num português claro, aquele homem, longe de tudo, respondeu: "Não senhor, é aqui que o Brasil começa". Esse povo merece melhor sorte e melhor futuro.

 

Mídia no avião
Em seu primeiro seminário sobre o tema, Ícaro Brasil recebeu importantes nomes da aviação e publicidade

Em princípio, todo o espaço pode ser mídia, meio para a mensagem publicitária. Só é preciso levar em conta que cada espaço tem sua atmosfera, uma espécie de liturgia que deve ser tratada com imaginação e respeito, ou a mensagem corre sério risco. O avião, por exemplo, um espaço tão diferenciado que merece ser abordado com cuidados igualmente especiais. Em torno dessas idéias básicas gravitou o I Seminário Internacional de Mídia a Bordo, promovido pela revista Ícaro Brasil com apoio da VARIG e Rio Sul, no Hotel Meliá, em São Paulo, nos dias 12 e 13 de junho.

"Três coisas tornam uma viagem agradável: o sorriso da aeromoça, o speech do comandante e uma boa revista de bordo", disse Ozires Silva, presidente da VARIG, na abertura do evento. Mas, como ele próprio reconheceu, mídia de bordo transcende a presença da revista. Envolve desde cinema e vídeo até o merchandising na passagem ou o lencinho refrescante na bandeja das refeições. Sintomaticamente, os dois convidados estrangeiros, o canadense Raymond Girard e a inglesa Mary Keane-Dawson, fazem parte do board da Spafax, empresa especializada em mídia de bordo no sentido mais amplo, incluindo não só anúncios como ações nas salas VIPs e aviões de várias companhias.

Raymond é diretor e publisher da enRoute, distribuída pela Air Canada e Canadian Airlines, a revista de bordo mais premiada do mundo nos últimos dois anos, e que é editada pela Spafax. Mary Keane, uma das diretoras da Spafax, que tem sede em Londres, é responsável pela venda de espaço em publicações, no ano passado com um faturamento de US$ 27 milhões. Dentre os conferencistas e debatedores, importantes nomes de empresários, comunicadores, profissionais de aviação e, claro, publicitários, especialmente diretores da área da mídia.

Dos muitos debates emergiu um perfil bastante claro do público de avião. Ele foi descrito como extremamente disponível, especialmente num país com as dimensões do nosso, onde as viagens duram horas. Durante o vôo, a ligação com a mensagem é direta, com grande qualidade de atenção e uma longa exposição de marcas. Trata-se também de um público diferenciado, qualificado, facilmente perfilável.

Mas, como lembrou Walter Longo, presidente da Newcomm, audiência cativa não quer dizer passiva, fácil; quanto mais qualificado um público, mais exigente se mostra com a qualidade. Para ele, atingir não significa impactar e sim convencer. A mensagem, portanto, deve respeitar o público e o momento, jamais revelar-se intrusiva. O cliente a bordo é um convidado a ser tratado com carinho e inteligência, não um refém, lembrou Marcello Carvalho, gerente de marketing da Rio Sul. Para o presidente da Rio Sul, Percy Rodrigues, a empresa deve, ao mesmo tempo, entreter e preservar o passageiro.

Adélia Franceschini expôs alguns resultados da pesquisa que sua empresa realizou sobre Ícaro Brasil com frequent fliers da VARIG. A pesquisa comprovou dados bastante animadores: 75% dos passageiros espontaneamente afirmaram ler Ícaro Brasil, 44% ocupam posições de direção em suas empresas, 75% pertencem à classe A, 22% possuem home theater e 86% levam a revista para casa, o que multiplica por quatro os leitores da revista, cuja tiragem é de 130 mil exemplares. Em sua palestra, Roberto Muylaert, publisher e editor de Ícaro Brasil, comentou também dados de uma pesquisa da MPA sobre revistas. Um deles: as 25 maiores revistas americanas fornecem 25% mais público de maior idade do que os 25 maiores programas de TV em audiência, com apenas metade do custo por mil. Segundo ainda a MPA, 43% das pessoas entrevistadas confiam mais em anúncios de revistas, contra 29% dos veiculados por televisão e 9% pela Internet.

Alguns conferencistas levaram o tema, mídia no avião, a voar alto. Ao discorrer sobre "Revistas: a marca como patrimônio", Antoninho Marmo Trevisan, presidente da Trevisan Auditores e Consultores, mostrou como hoje, mais do que um imóvel caro, o valor de uma marca tornou-se decisivo até para a concessão de um empréstimo. O jornalista Matinas Suzuki, diretor da iG, declarou-se fascinado com a Internet não tanto enquanto tecnologia ou mídia, mas nas revoluções de atitudes que ela está prestes a causar. Mesmo editando um jornal eletrônico com notícias a cada segundo, Matinas reconheceu duas coisas: poltrona de avião é feita para ler revista e todos os dias, quando acorda, a primeira coisa que faz é procurar um jornal - de papel! Jaime Troiano, diretor de sua empresa de consultoria de mídia e comportamento do consumidor, expôs com detalhes, as curiosas relações simbióticas entre os leitores e revistas.

Para Roberto Muylaert, esse seminário sobre mídia revelou-se rico na medida em que transcendeu o avião e terminou se perdendo, ou se ganhando, pelos céus da própria comunicação humana no raiar do milênio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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